sexta-feira, 24 de agosto de 2012

CARTA A UM AMIGO

Caro Amigo,

Paz e Bem!

Escrevo-lhe como irmão e amigo em Cristo. Pois o momento que você está passando é semelhante ao que eu passei. Medo, angústia, insegurança e a sensação de impotência abalam o nosso emocional deixando o psicológico em frangalhos.
Amigo, nessas horas o mais importante é você compreender o processo psicológico que desencadeou na sua alma e no seu inconsciente. É confessar para você mesmo, e diante de Deus, o quanto está aflito e desamparado. Saber que nesse processo a ajuda virá a partir do reconhecimento que você fará dos seus medos, angústias e impotências.
O medo que você sente é de infartar? Quando começa lhe dar sensações e sintomas típicos do infarto, você começa ficar nervoso pensando que não conseguirá chegar a tempo no hospital? O aparelho de medição da pressão arterial se tornou o seu companheiro inseparável? Se as respostas a essas perguntas forem sim, estamos mais próximos do que nunca. Pois foram exatamente esses sintomas que me atacaram o corpo, mas, acima de tudo, o meu psicológico.
Envio-lhe essa pequena mensagem somente para lhe dizer que você não está sozinho nessa questão. Eu passei, e ainda estou em tratamento, milhares de pessoas passaram, e continuam nesse processo pós-traumático.
Amigo, busque ajuda espiritual. Mas busque a médica também. Você pode começar meditando no Salmo 23.4 – que foi um bálsamo nas crises mais difíceis que vieram sobre mim:

Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mau algum, porque tu estás comigo.

Ainda, medite no Salmo 38. Ali, é exposta a dor e aflição na alma do salmista, mas ele espera o auxílio do altíssimo. Se lance para Deus e para as pessoas que te amam. Deixe a vergonha de lado e chore quando tiver que chorar, pois nessas horas não há melhor remédio que o choro. Ele faz extravasar a nossa emoção retida. Jamais retenha a sua emoção, exponha-a. Em primeiro lugar para Deus e depois para a pessoa que você ama. Não esqueça que ela está sofrendo ao lhe ver sofrer.
    E "não tente consertar o mundo. Você precisa consertar o seu primeiro”. Esse foi um precioso conselho da minha cardiologista.

Amigo, estou orando por você! E desejo-lhe uma vida saudável.

Em Cristo,

M.O.O
Rio de Janeiro - RJ.

Em tempo: Esse texto não pretende oferecer qualquer orientação de cunho médico ou psicológico, devendo o leitor que se identificar com os sintomas descritos procurar uma assistência especializada.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Tempo, tempo

A política chega ao "miolo do vulcão" e seus agentes parecem o avesso de Midas: aspiram produzir os grandes relatos da história, mas tudo o que tocam, como ironizou Peter Sloterdijk, resulta algo "involuntariamente pequeno".
O julgamento, na mais elevada corte, de uma denúncia de corrupção, conhecida como mensalão, em vez de firmar os pesos na balança da Justiça mais parece atiçar a fogueira das vaidades e reforçar os vícios que lhe deram origem.
Uma CPI que deveria punir a continuidade renitente dos esquemas criminosos no Estado e estancar a cachoeira da corrupção vira um show de vergonhas. Ali, os que têm algo a dizer ficam em silêncio e os que não têm gritam.
Uma campanha eleitoral se arrasta nas ruas e se anuncia na TV desconhecendo as cidades e seus problemas para focar-se na disputa de poder, com alianças, discursos e marketing que lembram uma liquidação no comércio varejista.
Tudo o que minha geração batizou de "velha política" mostra sua capacidade de agarrar-se nas estruturas materiais e mentais e dali contaminar todo o organismo do país.
Assim, se uma lei de proteção às florestas pode ser desfigurada para servir ao setor mais retrógado do ruralismo, o passo seguinte é constranger a sociedade e os ambientalistas a largarem seus princípios e propostas e aderirem ao "mal menor", a versão negociada do retrocesso, como se os ecossistemas funcionassem por acordos políticos.
E há quem especule com o destino do Movimento Nova Política, visto na ótica do poder como uma "articulação para criar um novo partido", como se nesse ambiente de política "em tempos do cólera" não caibam mais ideais sinceros.
Como em uma fita moebios, onde não se distingue dentro e fora, qualquer ação ou palavra é interpretada como parte do jogo, dar ou negar apoio a candidatos, ocupar espaço, afirmar-se na disputa.
A esperança se guarda e se renova na imprevisibilidade de nós mesmos, pois para além de nossas narrativas diminutas há sempre a grandiosidade dos muitos Brasis que habitamos e dos muitos que nos habitam.
Uma porção generosa criativa e livre completa seus 70 anos de vida mantendo a alegria e a esperança da juventude.
Caetano e uma geração inteira, de Gil e Milton e Chico e tantos brasileiros que promoveram um ideal de conhecimento ético e estético que não pode se perder, não vai se perder nem diminuir.
A grandeza da alma brasileira, os valores cantados pela nossa exuberante diversidade cultural, todos os tesouros da nossa terra e mais as dádivas que recebemos do céu são as verdades tropicais em que nos afirmaremos para superar, na radical critica de Walter Benjamin, as 'experiências de pobrezas' desse nosso tempo, tempo, tempo. Compositor do destino?


Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula e candidata ao Planalto em 2010. Escreve às sextas na versão impressa da Página A2.

Postado por:

M.O.O.
Rio de Janeiro, RJ.